📉 A Ascensão e Queda da 123Milhas: Da Inovação no Turismo à Recuperação Judicial Bilionária

Introdução

Durante anos, a 123Milhas foi sinônimo de economia para os brasileiros que sonhavam em viajar pagando menos. Com sede em Belo Horizonte (MG), a empresa nasceu com a proposta ousada de intermediar milhas aéreas para vender passagens mais baratas. No entanto, após um rápido crescimento e um modelo de negócio inovador — e arriscado —, a companhia mergulhou em uma crise que expôs fragilidades estruturais, culminando em um processo de recuperação judicial avaliado em bilhões de reais.

Fundada com uma ideia simples e ambiciosa

Em 2016, os irmãos Augusto e Ramiro Madureira fundaram a 123Milhas com a promessa de democratizar o acesso ao turismo. Utilizando um modelo que envolvia a compra e revenda de milhas acumuladas por terceiros, a empresa rapidamente conquistou espaço no mercado, atraindo uma base crescente de clientes com preços atrativos.

O sucesso levou ao lançamento da linha Promo123 em 2021, que oferecia passagens com datas flexíveis e tarifas bem abaixo da média. A promessa era simples: o cliente escolhia o período da viagem, e a empresa se encarregava de encontrar as datas mais baratas dentro daquele intervalo.

Fusão com a MaxMilhas e ambição de expansão

O bom desempenho da empresa levou, em janeiro de 2023, à fusão com a concorrente MaxMilhas. Juntas, elas pretendiam dominar o setor de vendas de passagens com milhas. Apesar de manterem operações separadas, o movimento foi visto como um passo ousado rumo à consolidação de mercado.

Entretanto, o que parecia ser o auge da 123Milhas rapidamente se tornou o prenúncio da crise.

O colapso da linha Promo e o início do declínio

Em agosto de 2023, a empresa suspendeu a emissão de pacotes da linha Promo, citando a instabilidade econômica, o aumento das passagens aéreas e das taxas de juros. A decisão pegou clientes de surpresa e gerou uma onda de indignação nas redes sociais e sites de reclamação. Só no Reclame Aqui, a empresa acumulou mais de 42 mil queixas.

Dali em diante, a crise só se aprofundou.

Recuperação judicial e dívidas bilionárias

No fim de agosto, a 123Milhas entrou com pedido de recuperação judicial, revelando dívidas superiores a R$ 2,3 bilhões. O plano de reestruturação incluía também empresas do mesmo grupo, como a Novum e a HotMilhas.

Segundo o plano protocolado, os 800 mil credores teriam diferentes opções para receber os valores devidos — entre elas, a proposta de receber com redução de até 40%, em prazo superior a 6 anos. As dívidas trabalhistas, por sua vez, seriam quitadas em 12 parcelas corrigidas pelo IPCA.

Investigações e suspeitas de fraude

Enquanto lidava com a enxurrada de reclamações e tentava aprovar o plano de recuperação, a 123Milhas também passou a ser alvo de investigações da Polícia Civil e do Ministério Público.

Relatórios financeiros revelaram que sócios da empresa teriam retirado R$ 13,5 milhões das contas da 123Milhas semanas antes do colapso, depositando os valores em contas pessoais e de familiares. As autoridades apuram suspeitas de estelionato, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.

Um futuro incerto

Apesar da crise, os administradores da 123Milhas afirmam que seguem comprometidos com a continuidade da empresa e o ressarcimento dos consumidores. O plano de recuperação está em análise pela Justiça e pelos credores, que têm até o segundo semestre de 2025 para se manifestar definitivamente.

Para os clientes, resta a incerteza sobre os reembolsos. Para o mercado, fica o alerta sobre os riscos de modelos de negócios baseados em promessas excessivamente otimistas.

Conclusão

O caso da 123Milhas escancara o quanto o setor de turismo online pode ser vulnerável a estratégias arriscadas e à falta de regulação. De uma das empresas mais promissoras do Brasil a protagonista de um dos maiores escândalos recentes do comércio eletrônico, a trajetória da 123Milhas serve como estudo de caso sobre crescimento rápido, gestão de risco e responsabilidade com o consumidor.